segunda-feira, agosto 29, 2005

O Espelho de Galadriel

Estava parada, deitada na relva verde das terras de Lothlórien, ao lado de Alexis, que cochilava quando a Senhora apareceu. Ela parecia ainda mais pálida e bela. Estendeu-me a mão, dizendo "Venha comigo, quero te mostrar uma coisa"

- Mas Alexis está aqui dormindo e...
- Não se preocupe, ela não vai acordar agora. Venha.

Caminhamos lado a lado em silêncio. Ela observava a paisagem com a alma embevecida. Eu, cheia de dúvidas, o que havia afinal de tão misterioso naquele lugar? O que eu deveria saber quando chegasse a hora? Por que Dumbledore havia me mandado para Lothlórien? Pesquisei por dias a fio as características do povo daquele lugar, suas histórias, lendas, geografia... Mas exatamente, o que eu fui buscar? Essas perguntas me consumiam os neurônios enquanto caminhava ao lado da Senhora, que me conduziu até um jardim fechado. Nele havia uma depressão côncava no centro e, no meio, uma fonte e uma bacia de prata. Ela me encarou com ar sério, mas ao mesmo tempo, quase maternal.

- Arwen, esse é o meu instrumento precioso. O Espelho de Galadriel pode mostrar o que você quiser, ao observá-lo. Mas outras vezes mostra coisas que sequer imaginamos. Coisas que podem ser seu passado, ou o presente aqui ou em outro lugar distante. Ou ainda o futuro. Cabe a nós a sabedoria para discernirmos o que enxergarmos nele. E bom senso para não agir de maneira impensada ou precipitada. Muitos dos fatos mostrados neste espelho jamais teriam acontecido se quem os viu não tivesse tentado impedí-los. Gostaria de olhar?

Pensei por alguns segundos. Eu tinha um turbilhão de pensamentos, sentimentos diferentes, emoções que eu nunca havia sentido na vida e tudo estava mudando tão rápido! Olhar aquele espelho poderia ser algo de grande valia, mas e se ele estivesse apenas mostrando uma ilusão?

- Ele pode sim, mostrar ilusões, ou desfechos que você gostaria de ver para determinadas situações. Cabe a você decidir.
- O que a senhora aconselha?
- Galadriel não dá conselhos, jovem menina. Mas se a trouxe aqui, é porque considero que tenha capacidade de discernir o que vier a assistir ao penetrar nas águas do espelho. A decisão é sua.

Resolvi olhar. Não iria me arrancar nenhum pedaço. Ela encheu a bacia com a água da fonte e debrucei-me sobre ela, ouvindo a senhora dizer "aconteça o que acontecer, não toque na água".

Num primeiro instante a única coisa que enxerguei foi meu próprio reflexo. Mas as imagens foram se modificando e pude me ver cercada de outros elfos. Eu estava sentada numa cadeira como a de Galadriel, no mesmo grande salão onde mora a senhora dos Galadhrim. Olhei para minha mão e havia um anel em meu dedo anular direito, ornamentado com uma pedra azul clara muito brilhante. Olhei rapidamente para os lados em busca da senhora, mas ela não estava lá, nem Celeborn. Comecei a ficar aflita e ela tocou meu ombro de leve.

- Não toque na água.

Afastei-me sem entender que visão era aquela. Ela sentou-se no chão, convidando-me a sentar ao seu lado.

- O que você viu é o que você busca nessas terras, pequena Arwen.

Não entendi bem, eu parecia meio atordoada, meio sonhando. Ela prosseguiu.

- Há muito que você precisa saber. Essa será uma longa conversa - fez uma pausa e continuou em seguida - Arwen, há muitos e muitos anos tive uma filha, que se casou com Elrond de Valfenda. Eles tiveram três filhos, entre eles, a estrela vespertina de quem você herdou o nome. Ela casou-se com o rei Aragorn de Gondor e tiveram uma única filha. E esta, por sua vez, também escolheu casar-se com um mortal. E também teve uma única filha. E assim isso vem se sucedendo por gerações e gerações. Liv, sua mãe, era uma dessas sucessoras. E você também é. Todas partiram, optaram por amor à renúncia dos gozos da vida élfica, e tiveram seu tempo na terra. Assim como sua mãe. Agora, neste momento, se eu partir ou me ferir ou ainda desistir de viver nessa condição de imortalidade, meu reino deverá ter um sucessor, que continuará a guiar este povo e zelar pela paz nesta floresta. E minha única sucessora viva é você. Você faz parte dessas terras como fez sua mãe, sua avó, e todas as outras ancestrais.

Fiquei atônita. Boquiaberta. Não sabia o que dizer. Tudo o que eu queria saber era o que eu estava fazendo ali. Agora, aquilo se escancarava como uma porta se abrindo na minha frente. Eu, herdeira de tudo aquilo? Simplesmente não dava para acreditar. Ela continuou.

- Ora, uma prova disso é seu dom. Você tem o dom da "vidência" como chamam os magos, mas não exatamente como eles definem e esperam que se manifestem. Você tem o dom natural de um dos elfos de Lórien, que se manifesta de outras inúmeras formas. Ouvir pensamentos, interferir no que as pessoas pensam, conversar sem usar as palavras, mas o olhar. Sensações, intuições e a certeza de acontecimentos futuros... Ora, soube que você andou buscando a origem disso tudo em você quando esteve em Valfenda. Agora você encontrou o que buscava. Esse é o meu dom, Arwen. O dom que você herdou.

Continuei estatalada, olhando para os meus joelhos, ainda tentando digerir toda aquela enxurrada de novidades assustadoras. Estava perdida em minhas conjecturas quando Galadriel me chamou.

- Está na hora de voltarmos, a pequena Alexis deve acordar a qualquer momento.

Voltamos em silêncio e não ousei dizer sequer uma palavra. Nem questionar. Nada. Estava pasma demais para pensar em perguntar qualquer coisa.
Arwen Lórien Potter às 08:23 h

sexta-feira, agosto 26, 2005

Na cidade dos Galadhrim - parte II

Estávamos no enorme salão sobre o grande mallorn na cidade dos Galadrim. A Senhora Galadriel de Lórien agora nos observava com um sorriso nos lábios.

- Sejam bem-vindas à bela Lothlórien, jovens feiticeiras do velho mundo. Sou Galadriel, senhora dessas terras e governadora deste reino élfico. Este é Celeborn, o Senhor de Lórien.

A bela elfa fitou-me com um brilho diferente nos olhos. Mas desta vez, não me senti triste, mas confortada. Que dom seria esse, de mexer com as emoções mais profundas das pessoas?

- Você deve ser a pequena jovem filha de Liv, de Valfenda. Estava esperando por você. Temos muito o que conversar. Dumbledore, o sábio, pediu-me para que a ajudasse. Não temos nós, elfos de Lórien, o hábito de receber visitas. Desde que o senhor das montanhas escuras foi derrotado, estamos aqui, reclusos. Poucos humanos fora desta floresta ainda têm conhecimento dessa cidade. Menos ainda do que nos dias antigos...
Agora vocês serão levadas ao seu acampamento e irão descansar. Aproveitem a estada em Lothlórien para curar as chagas da alma e descansar o espírito.

A senhora fez uma pausa e depois, prosseguiu:

- Não tenha pressa, pequena jovem elfa. Na hora certa todas as suas dúvidas serão sanadas e todas as questões respondidas. Há muito o que aprender nas terras onde reina Galadriel. Espero que aproveitem. No entanto... Dumbledore, o sábio, disse-me que viriam 3 jovens aprendizes. Só vejo aqui duas e a terceira, ausente, me parece deveras infeliz por isso. Bela guardiã das jovens, creio que deverá buscá-la. Pedirei a Haldir que a ajude a trazer a pequena bruxa. Agora vão em paz.

Dizendo isso, nós a reverenciamos curvando o corpo, num gesto automático e impensado. Eu não sabia que lugar era aquele, nem que mistérios haviam ali, mas sentia que estava à vontade e em casa. Há muitos dias não me sentia tão bem disposta como naquele momento. Nos retiramos e fomos conduzidas a uma aconchegante tenda sobre um outro mallorn, onde já estava nos esperando, uma deliciosa refeição, almofadas macias e cobertores quentes e agradáveis. Estávamos muito eufóricas para conseguir descansar e pensar em dormir. Ficamos debruçadas, Alexis e eu, numa das cercas da tenda, olhando o movimento nos terrenos abaixo. Os elfos caminhavam descalços na terra coberta de grama macia, por entre as árvores, tocavam harpas e faziam pequenas reuniões festivas.

Alguns dias se passaram, e eu estudava mapas, plantas e hábitos da população local. Alexis no início achou aquilo tudo interessante, mas ao notar que nada mais impactante havia acontecido desde a nossa chegada, estava começando a achar aquilo tudo muito chato.

- Se pelo menos Dani Lupin estivesse aqui... Podíamos fazer uma música, ou algo assim para alegrar uma dessas festas onde só se tocam harpas. Guitarra, sabe?

Marjorie riu e nos explicou que ali não existiam esse tipo de instrumento musical. Alexis parecia indignada, e embora eu saiba que ela estava de brincadeira, não sei se McGonagall também percebeu isso.

- Sem guitarra? No more rock'n'roll? E eu que havia pensado que eles curtiam um som maneiro! Com esses cabelões e tudo, perfeitos para a gente sacudir... mas só harpas e flautas? Affe!

Caímos na risada. Foi quando Haldir se aproximou do jardim onde estávamos.

- A guardiã das aprendizes deve me seguir agora. Temos a empreitada de resgatar a terceira jovem.

- Ora, Haldir, não é bem um resgate. Ela está em casa e em segurança, só precisamos ir buscá-la - explicou sorrindo para o elfo.

Dizendo isso, a nossa guia se despediu dizendo que estaria de volta tão cedo quanto possível. Recomendou-nos que nos comportássemos na sua ausência e partiu.

Alexis se jogou no chão, à sombra de uma bela árvore e cochilou. Fiz o mesmo, mas não consegui dormir. Por onde andaria a Senhora? Não a havia visto em nenhum lugar desde a nossa chegada.

E como se lesse meus pensamentos, lá estava ela, parada diante de mim, sorrido, bela e pálida.
Arwen Lórien Potter às 14:01 h

sexta-feira, agosto 19, 2005

Na cidade dos Galadhrim

Caminhamos de olhos vendados durante toda a noite. E, nem de longe, parecíamos cansadas. Foi quando ouvimos a bela voz do elfo que nos acompanhava.

- Podemos parar agora. Chegamos.

O elfo tirou as vendas de nossos olhos. Meu queixo caiu e tive que respirar bem pausadamente para não perder o fôlego.

Estávamos em um enorme campo muito verde. Podíamos vislumbrar dali um monte coberto de grama fresca. No alto, árvores coroavam a colina. As mais externas eram de troncos brancos e sem nenhuma folhagem, mas ainda assim, magníficas. As mais internas eram os mallorns, as árvores altas, esguias e cobertas de folhas douradas.
No gramado piscavam pequenas estrelas. Abaixei-me para ver melhor e percebi que eram flores. Umas douradas em forma de estrelas, os elanor. Outras brancas e de aparência nebulosa - os ninphadil. Acima de tudo um céu tão azul que ofuscava a vista.

Olhei para Alexis e vi que ela esfregava os olhos e depois os arregalava. Tive certeza de que minha amiga estava se certificando de que estava, de fato, acordada. Eu, por mim, tinha cada vez mais certeza de que havia adentrado um sonho maravilhoso. Não pude deixar de pensar em Dani Lupin e Harry. Seria tão perfeito se estivéssemos todos ali!

Quando dei por mim já estávamos subindo a encosta. Logo alcançamos a coroa de árvores. Mais adiante, pudemos ver uma cidade verde, alta, iluminada pelo sol da manhã.

- Aqui está o coração do reino élfico - disse o elfo que nos guiara - esta é a cidade dos Galadhrim, onde reina a Senhora Galadriel de Lórien.

Atravessamos uma ponte branca e chegamos nos portões da cidade. O elfo bateu um sino, o que fez com que os portões se abrisses sozinhos. Entramos e eles se fecharam atrás de nós. A cidade era construída em cima das árvores. Continuamos por escadas e trilhas até nos depararmos com a maior de todos os mallorns. Ao seu lado havia uma grande escada branca e 3 elfos montavam guarda.

- A Senhora de Lórien espera por vocês. Por hora, despeço-me aqui.

O elfo conversou com os guardas em sua própria língua e acenou com a cabeça para nós, se retirando. Subimos as escadas até uma grande altura acima do solo. Entramos numa casa sobre a árvore tão grande como eu nunca conseguiria imaginar se não estivesse ali. Era iluminada por uma luz suave. Numa cadeira que mais parecia um trono, mais adiante, estava uma mulher alta, magra, de cabelos muito longos, dourados, de pele muito pálida. Fomos conduzidas até a sua presença.

A Senhora inicialmente nada falou. Apenas nos fitou, uma a uma, demoradamente. De repente todas as emoções dos últimos dias vieram à tona em minha mente como um turbilhão. Ela interrompeu o contato visual e meu coração serenou.
Arwen Lórien Potter às 22:19 h

quarta-feira, agosto 10, 2005

De partida para Lothlórien

Estávamos Alexis, Marjorie e eu paradas olhando boquiabertas para as altas e esguias árvores de folhagem dourada e brilhante. Era começo de noite e uma brisa fria invadia-nos a alma. Ouvimos um ruído de água caindo como numa cascata e nos voltamos para a direita. Lá estava um rio, correndo alegremente. Marjorie arriscou:

- Aquele deve ser o Nimrodel. Existem muitas lendas e muitas canções élficas sobre ele e dizem que suas águas têm poder curativo. Vamos, vamos tocá-lo!

Seguimos a loira e depois de caminhar por alguns minutos, chegamos à margem do riacho. Marjorie encostou de leve as mãos na água cristalina do leito e ficou em silêncio por alguns instantes. Estava analisando algo.

- Bom meninas, acho que poderemos atravessá-lo à pé, não é fundo... e então aguardaremos nossos amigos elfos do outro lado. Acredito que ainda teremos de andar um bocado, o povo de Lórien deve morar bem no coração da floresta.

- Srta. McGonagall, por que não podemos usar chave de portal para chegarmos até lá?, perguntei curiosa.

- Ora, Arwen, você sinceramente acredita que seria tão fácil assim encontrar os elfos e suas moradas? Não há nem mesmo como aparatar dentro dos terrenos da floresta de Lothlórien e o caminho para a morada é desconhecido. Os visitantes só lá chegam se assim os elfos o quiserem e eles mesmo os vêm buscar aqui nas margens do Nimrodel.

Assenti, fazia muito sentido a explicação da moça. E como é que ela sabia disso tudo? Dumbledore havia me dito que muito pouco se sabe sobre os elfos nos dias de hoje...

- Ora, srta. Potter, eu sou Inominada, lembra-se? Talvez eu conheça algumas coisas que meninas da idade de vocês não saibam ainda - respondeu, sorrindo, à minha pergunta silenciosa, como se tivesse lido meus pensamentos.

Alexis mal se lembrava de respirar. Parecia não ouvir nem mesmo uma única palavra do que havíamos dito. Caminhava a passos leves, em profundo silêncio, observando atentamente as copas das árvores, as flores douradas, ouvindo a canção da noite.

Atravessamos o Nimrodel caminhando lentamente. Marjorie nos orientava.

- Andem bem devagar e sintam as águas curativas percorrerem através da pele. Vai fazer vocês se sentirem melhor.

De fato, enquanto atravessávamos o estreito riacho, eu sentia a água fria lavando minha alma e toda a tristeza, a angústia e a dúvida dos últimos dias pareciam estar sendo arrancadas de mim e ficando ali, dentro do rio. Eu me sentia mais leve e com vontade de cantar.

Ao chegarmos na margem oposta, olhamos ao redor e não encontramos viva alma. Não tardou mais que cinco minutos e ouvimos passos. Dois vultos altos e esguios aproximavam-se de onde estávamos, com passos tão leves que quase flutuavam. Eram dois elfos da floresta dourada, nossos guias naquele momento. Marjorie os cumprimentou com um aceno de cabeça. Eles responderam e falaram algo numa língua que nem eu, nem Alexis, entendemos patavinas. Mas Marjorie parece ter entendido, porque ela os respondeu - na mesma língua estranha. Enfim eles olharam para nós e ela nos esclareceu.

- Eles estão dizendo que estavam esperando 4 pessoas, e não 3. Saberemos melhor sobre isso quando chegarmos. Vamos ter que colocar vendas nos olhos e confiar neles como nossos guias até que estejamos dentro da cidade dos Galadhrim.

Concordamos desconfiadas. Alexis parecia indignada pela primeira vez na vida!

- Ow, alto lá, alto lá! E eu vou perder tudo isso? Vou ter que andar de olhos vendados? E se eu cair?

Marjorie riu, depois apazigou os ânimos.
- Calma Alexis, logo logo o que você verá vai recompensá-la pelas horas de escuridão.

Assim, partimos de olhos fechados rumo à tal "cidade dos Galadhrim". Mas no íntimo eu não me importava. Estava feliz demais ali para questionar alguma coisa. Talvez fosse o efeito da água do Nimrodel...
Arwen Lórien Potter às 10:04 h

domingo, agosto 07, 2005

Lothlórien, aí vamos nós!

As férias estavam divertidas, na medida do possível, tendo em vista os acontecimentos recentes. Era estranho não ir para casa nas férias, não ter mais dona Liv Potter para me receber na estação de King's Cross e passar a noite toda acordada conversando com ela, contando as últimas novidades. Fora que a tensão era visível em todos os cantos do Reino Unido. Não podíamos sair sozinhas, nem ficar no quintal sem a companhia de algum adulto, de preferência aurores ou membros da Ordem de Fênix.

Estava na casa dos Dumbledore, pais da Alexis. Eles me acolheram como se fosse também filha deles, o que me fez sentir muito mais confortável. Os primeiros dias foram bem estranhos, talvez por serem dias de adaptação. Jogávamos quadribol (ou pelo menos, tentávamos) nos arredores da casa de Alexis. Dormíamos tarde, fuxicando em nossas camas e escrevíamos quase que diariamente para Dani Lupin. Recebi algumas corujas trazendo notícias de Harry. Contei a Alexis o pedido da minha mãe, de deixar-lo. E a minha aflição por achar que eu não podia fazer aquilo, simplesmente não podia. Ou talvez, eu não quisesse. Era simplesmente impossível imaginar ter que deixá-lo depois de ele ter salvado a minha vida.

Eu também estava aguardando um sinal. Aquele que me faria arrumar as malas e partir para uma viagem diferente. Eu iria para Lothlórien.
Estava curiosa para descobrir o que me esperava. Mas também estava um tanto desanimada. Não queria ir sozinha.

Eis que num fim de tarde, ouvimos um estampido alto do lado de fora e, em seguida, três batidas vigorosas na porta da sala. O elfo doméstico atendeu a porta e pudemos ver quem chegara. Era uma moça loira, muito bonita, que reconheci na hora - a sobrinha da McGonagall, Marjorie.
Ela estava trazendo uma mensagem de Dumbledore para mim. Abri a carta, que dizia que estava tudo pronto para a minha partida. Que iríamos para a floresta de Lothlórien via chave de portal e que Marjorie me acompanharia.
Baixei os olhos da carta, pensativa. Encarei Alexis, que parece ter compreendido o que eu estava pensando. Não queria ir sozinha, precisava de um amigo ao meu lado.

- Mãe, posso ir também?
- Minha querida, essa viagem é muito importante para a Arwen, não sei se é conveniente que você vá com ela...
- Por favor, sra. Dumbledore, eu gostaria muito de ter companhia da minha amiga nessa viagem. Não sei o que está por vir... Vai me fazer muito bem se ela puder ir comigo.

A Sra. Dumbledore olhou para a filha e dela para Marjorie. Esta assentiu com a cabeça.

- Não vejo porque não poder levar Alexis, sra. Dumbledore. Acho até que nós 3 podemos nos divertir muito.

Alexis e eu observávamos com uma certa aflição no olhar a senhora Dumbledore. Enfim, ela e o pai de Alexis cederam.

- Está certo, mocinha, você pode ir. Mas ouça bem, se eu souber que vocês aprontaram alguma coisa por lá, essa vai ser a primeira e a última viagem de vocês sem a nossa companhia até atingirem a maioridade, estão me entendendo?

- EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!
Alexis pulou no pescoço dos pais, feliz da vida, e beijava os rostos dos dois, entusiasmadíssima.

- Agora, por favor... Vocês devem arrumar a bagagem. Vamos partir dentro de alguns minutos. Vou só aguardar o sinal de Tonks para partirmos.

Subimos as escadas, correndo, para nos prepararmos para a viagem. Enfiamos tudo o que podíamos rapidamente nos malões e, poucos minutos depois, já estávamos na sala, prontas para partir.

- OK, meninas, Tonks já nos deu o sinal. Já podemos ir.

Nos despedimos dos pais de Alexis. Marjorie retirou da bolsa uma coisa que parecia um espelho compacto. Transformou-o numa chave de portal e nos ordenou que segurássemos nas pontas dele.

- Segurem firme quando eu disser 3. Um... dois... três!

Senti um puxão pelo meu umbigo e vi tudo rodopiar. Não sei quanto tempo durou, mas terminou com um baque. Olhei ao redor e vi Alexis e Marjorie, um tanto despenteadas.
Estávamos num lugar cheio de árvores de folhas douradas e prateadas, tão lindas como eu jamais vi.

- Bom meninas, chegamos. Estamos em Lothlórien.
Arwen Lórien Potter às 13:58 h

quarta-feira, agosto 03, 2005

O Expresso de Hogwarts - Final

O Expresso de Hogwarts foi de repente, perdendo a velocidade.

- Será que já estamos chegando?, perguntei.
- Não, não, falta um bocado ainda. Por que estamos parando?, disse Alexis.
- Eita, e que frio hein? - Dani Lupin abraçava-se, esfregando as mãos nos braços.

O trem então parou num solavanco. Colamos a cara na vidraça da janela, mas a névoa do lado de fora não nos permitiu ver muita coisa. Foi quando todas as luzes da locomotiva se apagaram, nos deixando a todos num breu só.

- Conseguiu ver alguma coisa, Arwen?
- Não muito, Alexis... olha, parece que tem algo ali fora... parece estar embarcando.

Encostamos as costas nas poltronas e permanecemos em silêncio, embora nas outras cabines, as pessoas falassem alto e gritassem. Pelo visto deviam estar saindo de seus lugares para xeretar as cabines alheias no escuro, na tentativa de se descobrir o que estava acontecendo.

O frio no interior do trem foi aumentando rapimente. Continuávamos em silêncio. Ninguém dizia nada. Eu não tinha vontade de falar. Nem de sorrir. Na verdade, nem de abrir os olhos. Tinha vontade de nada.

Foi então que a nossa porta foi novamente aberta. Uma coisa enorme, horrenda, com a cabeça coberta por um capuz estava parada diante de nós. Emanava um odor podre e nauseante. O frio que eu sentia era de lascar. Um frio estranho, sórdido, seco, que me fazia tremer de dentro para fora, como se viesse da alma. Por um instante pude ver as mãos da coisa - comprida, ossuda, com a pele macerada, enrugada, cheia de feridas, de aspecto necrótico. Senti que não havia mais motivos para viver.

De repente, o monstro de capuz e mãos de zumbi afastou-se de nós e da cabine, em direção à saída do trem. Olhei para baixo e vi que não tinham pés. Simplesmente pairavam no ar e se locomoviam deslizando como se flutuassem.

Ficamos as três largadas durante alguns instantes nos nossos assentos. Pálidas e tontas. As luzes se acenderam e o trem foi novamente ganhando velocidade, o ruído dos pistãos ficando cada fez mais rápidos. E mais uma vez, a porta da cabine se abriu.

Desta vez estava parado diante de nós um homem pálido, de cabelos castanho-claro, salpicados de fios grisalhos e vestes bastante surradas. Dani Lupin se jogou nos braços do homem, abraçando-o.

- Pai, o que era aquilo? Que sensação horrível! - e desandou a chorar.

- Como vocês estão? - ele alisava-lhe os cabelos agora. Depois a afastou delicadamente, sentando a menina novamente no banco. Enfiou uma das mãos na veste, tirando um grande pacote. Abriu e vimos uma barra de chocolate de tamanho bastante avantajado, que ele partia e nos entregava grandes pedaços.

- Comam isso, vai fazer vocês se sentirem melhor - é chocolate mesmo, vai melhorar o ânimo de vocês, podem comer - disse ao observar os olhares desconfiados de Alexis e meu.

Ele sentou-se ao meu lado, de frente para a filha.

- Pai, o que era aquilo?
- Dementadores. Os guardiões de Azkaban.
- Ah! - Dani compreendeu e levou a mão à boca com um bom pedaço do chocolate - e o que eles estavam fazendo aqui? Não deveriam estar caçando aquele maníaco, Sirius Black?

Olhei para Alexis e então olhamos para os dois. Esticamos o mais que pudemos as nossas orelhas para não perder nada.

- Sim, e era o que eles estavam fazendo. Revistaram o trem em busca de Sirius Black.
- Vixe, vovô não vai gostar nadinha disso quando ele souber. Ele não simpatiza muito com esses monstrengos aí não.

O moço sorriu olhando-nos, curioso.

- Filhota, não vai me apresentar suas amigas?
- Ah sim, hehehe, que falta de educação. Esta é Alexis Dumbledore e esta, Arwen Potter. Meninas, Remo Lupin, meu pai.

Ele olhou-me intrigado - "Potter?"

Eu já estava acostumada com isso. Todo mundo me olhava estranho quando ouviam meu nome pela primeira vez. Expliquei:

- Eram todos trouxas os familiares do meu pai. O primeiro bruxo da família foi ele. Brian Potter, ele era auror, morreu ano passado.
- Sim, claro, lembro-me dele - disse sorrindo - Bom meninas, preciso voltar para a cabine aonde eu estava. Dani, você vem comigo ou fica aqui?
- Fico aqui.
- Ok, é melhor vocês se trocarem, vamos chegar dentro de dez minutos, mais ou menos...

E saiu fechando a porta atrás de si. Cravejamos Dani de perguntas.

- O que seu pai está fazendo aqui?
- O que SIRIUS BLACK estaria fazendo aqui?
- Por que seu pai entupiu a gente de chocolate?
- Calmaê! Calmaê! Devagar que tem Dani Lupin pra todo mundo! Papai está aqui porque ele também está indo para Hogwarts. Ele agora é professor lá, Defesa Contra Arte das Trevas.
- Ah! - exclamamos juntas, Alexis e eu.
- Vô Dumbie disse que todo ano ele quebra a cachola para conseguir um novo professor dessa matéria, que ninguém fica. Tomara que seja diferente esse ano, né?

Continuamos especulando sobre os dementadores, Sirius Black e sua fantástica fuga de Azkaban enquanto trocávamos de roupa.

E mais uma vez o trem foi perdendo velocidade, até parar, mas de modo mais suave dessa vez. E agora, o clima era de expectativa e agitação. Ouviam-se baques surdos de malas socando no chão e o ruido de passos e carrinhos.
Enfim, estação de Hogsmeade. Próxima parada: Castelo de Hogwarts.
Arwen Lórien Potter às 10:26 h

terça-feira, agosto 02, 2005

O Expresso de Hogwarts - Parte II

O trem foi ganhando mais e mais velocidade... O vento batia com força em meu rosto e o volume de ar era tanto que eu mal conseguia respirar. Minha mãe ficara pequenina lá atrás até desaparecer. Saí então da janela e sentei-me ao lado da minha coruja.
A garota de olhos amarelos agora me olhava com cara de interrogação. Sorri para ela.

- Ahn... seu nome é Potter? - perguntou bem na lata.
- Sim, Arwen Potter, prazer.
- Alexis Dumbledore - respondeu, estendendo a mão - Você é parente de Harry Potter?
- Oh, não, não sou! Minha família por parte de pai é trouxa, são irlandeses. Não temos nenhum parentesco com os Potter da Inglaterra. E você? É parente do diretor de Hogwarts?
- Sim! Eu sou neta dele! Bom, na verdade, sobrinha-neta, mas meu avô morreu antes de eu nascer e cresci chamando o velho Dumbie de vô.

A viagem seguia e o céu ficava cada vez mais escuro, na medida que nos dirigíamos para o norte. Logo a chuva começou a cair em pingos grossos, o que fazia um barulhão sobre nossas cabeças. Enquanto isso, conversávamos sobre Hogwarts. Minha colega de cabinhe crescera correndo pelos corredores do castelo e contava-me tudo o que sabia sobre ele, as casas, suas lendas e tudo o mais. Sonhadora por natureza, enquanto ela falava eu me imaginava lá dentro, andando pelos campos na área externa do castelo, espiando a Floresta Proibida e jogando quadribol pelo time da minha casa.

- Você joga quadribol? - Perguntei.

Mal terminei a frase e a porta da cabine se escancarou. Uma garota de cabelos castanho-escuros, ondulados até os ombros, olhos escuros e os braços carregados de livros estava parada na porta, nos olhando sorridente.

- Ah, me desculpem! É que eu estou procurando... Vocês viram meu pai?

"Pai?", pensei, "mas eu achei que não houvessem adultos nesse trem, tirando é claro, o maquinista e a mulher do carrinho de comida!". A menina continuou falando:

- Ele não estava muito bem, ele entrou no trem bem antes do embarque e eu acabei me perdendo dele... - a menina olhava para os corredores, e de volta para o interior da nossa cabine. Parou de falar, pensativa. Depois virou para nós e terminou:

- Posso ficar aqui com vocês? Lá na frente os meninos estão fazendo muita algazarra, eu não consigo prestar atenção no que eu estou lendo.

- Você já está estudando??? - Alexis arregalou os olhos.

- Não, só dando uma olhadinha nos livros novos - disse já se acomodando ao lado de Alexis - mas eu gosto muito de ler e estudar, vocês não? Eu quero ir para a Corvinal, vou ficar realmente chateada se for escolhida para outra casa. Como vocês se chamam?

- Alexis Dumbledore.
- Arwen Potter.

A garota nos olhou com ar de surpresa.

- Noooossa! Só celebridades! Prazer, Daniela Lupin. Vocês também são novatas? - assentimos com a cabeça - Querem ir para qual casa?

- Bom, eu ainda não sei... - eu dizia - minha mãe foi da Grifinória, mas eu não sei muita coisa sobre as casas...

- Oh, mas você não leu "Hogwarts, Uma História"? Lá tem tudo sobre Hogwarts, suas casas e tudo o mais. É bem interessante - e baixou o volume da voz, quase cochichando - queria ver se encontrava algo sobre passagens secretas para sair do castelo, sacam?

A menina então começou a nos dar uma verdadeira e divertida aula sobre as quatro casas da Escola. Alexis, por certo já sabia de tudo aquilo. Para mim, a grande maioria das informações era novidade.

- E a Lufa-Lufa é a casa dos que eles chamam de "leais", sabe, casa de gente muito boazinha. Mas a maioria do povo acha mesmo é que os lufa-lufas são um bando de bobos, tipo ingênuos, sabem?

A garota dava a demonstração do que estudara de maneira alegre e divertida, muitas vezes interrompidas por Alexis, que se ocupava de fazer um ou outro comentário pontual, sagaz e hilário. Eu definitivamente, concluí que estava em boa companhia.

- Ai, que fome! - reclamou Alexis.
- Papai disse que servem lanche no caminho... Onde será que a mulher do carrinho de doces se escondeu?
- Não sei, mas com a fome que eu estou, comeria até mesmo uma coruja, com as penas e tudo!

Galadriel arregalou os olhos azuis e se encolheu num canto da gaiola, assustada, me olhando.

Falávamos agora de quadribol. Alexis contara que voava escondido em casa e treinava apanhar alguns objetos. Confessei que eu nunca havia pegado numa vassoura, exceto para varrer alguma coisa. Dani Lupin preferia assitir a jogar - "Não, muito obrigada, não nasci pra isso, nasci para ficar em terra firme"

Finalmente ouvimos o barulho das rodas se arrastando e um zum zum crescente. Enfiamos as caras no corredor e vimos a bruxa gorducha empurrando o carrinho lotado de guloseimas.
Por alguns minutos a conversa morreu. Ninguém falava, somente mastigávamos. Eu olhava através do vidro da janela. O tempo estava cada vez mais escuro, a chuva cada vez pior, se estendendo como uma cortina impedindo a visão de mais além.

Mais uma vez, eu viajava nos meus pensamentos, agora imaginando como seria a seleção das casas. "Sem dúvida que eu vou pra Lufa-Lufa". Olhava para as garotas sentadas a minha frente e sorri, dando mais uma golada no meu suco de abóbora. No íntimo, eu desejava que ficássemos todas juntas na mesma casa, apesar de eu ter certeza de que Dani Lupin iria para a Corvinal e Alexis, para a Grifinória. Era muito bom ter amigas pela primeira vez na vida.
Arwen Lórien Potter às 15:37 h

segunda-feira, agosto 01, 2005

O Expresso de Hogwarts

10 e meia. Chegamos com trinta minutos de antecedência à estação ferroviária de King's Cross, abarrotada de pessoas apressadas que iam e vinham. Íamos em direção às plataformas 9 e 10. Nosso destino era a plataforma 9 1/2. Minha mãe segurava minha mão enquanto eu empurrava meu carrinho com as malas e a coruja. Atravessamos displicentemente a barreira entre as duas plataformas e aconteceu. Vi a enorme locomotiva a vapor, vermelha e preta, soltando gordas nuvens de fumaça no céu - o Expresso de Hogwarts. Eu olhava para tudo atentamente, não queria perder nenhum detalhe.
No íntimo, um misto de tensão e ansiedade. Era a primeira vez que eu estava ali, naquela plataforma, prestes a embarcar rumo ao meu primeiro ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

Por todos os lados, a paisagem era quase a mesma: crianças e jovens com bruxos e bruxas, que deveriam ser pais e parentes, carrinhos com bagagem, corujas piando, algumas fazendo muito estardalhaço, sapos coachando. Algumas senhoras estavam visivelmente fazendo recomendações aos filhos antes de embarcar. Alguns se abraçavam, se despedindo, outros reencontrando-se depois das férias. Outros ainda entravam no trem carregados de malas e bagagens de mão e saíam em seguida. Provavelmente haviam encontrado um lugar, acomodado as coisas e voltado para a plataforma para aproveitar os últimos instantes com a família antes do embarque.
Uma garota que aparentava ter a minha idade, branquinha, com cabelos longos e castanhos que terminavam em gordos cachos e olhos castanho-amarelados estava saltitante e visivelmente mal se continha de ansiedade. Ela agora se despedia de um casal muito simpático, que eu supus serem seus pais. Logo, a garota embarcou e sumiu de vista.

Era fácil identificar quem estava ali pela primeira vez. Além do óbvio tamanho reduzido e das carinhas de bebê, ainda tinha o agravante de estarmos sempre em companhia dos pais, e não em grupinhos de crianças, tirando, claro, os grupos de irmãos, como aquele enorme de ruivos que acabara de chegar. Minha mãe viu que eu não desgrudava os olhos deles (nossa, eu nunca havia visto tantos ruivos juntos!) e me explicou que eram os Weasley e que eles eram todos irmãos ("nem precisava dizer né mãe?"), exceto pela menina de cabelos fofos e o garoto de óculos e cabelos negros que os acompanhavam.

Senti um aperto de leve nos meus ombros. "Filha, melhor você entrar e acomodar sua bagagem, já está quase na hora."

Abracei já com saudades a minha mãezinha querida. Eu iria sentir muita falta dela. Havia um ano que vivíamos só nós duas em casa, desde que papai se fora. Minha mãe era desde então pai, mãe, amiga, irmã, instrutora. Eu também não tinha amigas, sempre vivi no meio de adultos e as poucas crianças que tive contato foram as de St. Mungus.

- Lembre-se de tudo o que lhe falei. Não deixe de comer, faça suas lições de casa direitinho, preste atenção em tudo, tome cuidado, não desobedeça as ordens que te derem, seja uma boa menina e me mande uma coruja assim que chegar, contando como foi a viagem e a seleção, ok?

Minha mãe me encaminhou até a porta do trem, pousou um beijo gostoso em minha testa e então, embarcamos, eu, o malão e Galadriel (a coruja).

Não devia ter demorado tanto para entrar com a bagagem. Agora praticamente todas as cabines estavam ocupadas. Dirigi-me com alguma dificuldade mais para os fundos da locomotiva. Um dos ruivos do grande grupo de irmãos veio até mim, todo empinado, com um jeito pomposo e algo que parecia um distintivo ou um broche, não sei, reluzindo no peito estufado.

- Caloura? Por aqui, por favor, sou monitor-chefe, siga-me. Vamos encontrar um lugar para acomodá-la.

Ele ajudou-me com a bagagem e encontrou uma cabine mais vazia. Ao abrir a porta, vi que havia apenas uma menina sentada. A garota de olhos amarelados que vi lá fora.

- Olá, sou monitor-chefe. Se incomodaria em dividir a cabine com esta jovem?

A menina balançou a cabeça negativamente. Ajudei o rapaz a acomodar minhas tranqueiras no bagageiro, sentei-me defronte a garota e coloquei a gaiola de Galadriel ao meu lado, no banco. Agradeci ao rapaz, sorrindo. "Como se chama?"

- Percy Weasley, monitor-chefe, Grifinória.
- Muito prazer, Arwen Potter.

Tanto o monitor ruivo quanto a menina arregalaram os olhos pra mim. O ruivo se retirou e a mocinha olhava agora para a janela. Debrucei-me do meu lado da janela para acenar para minha mãe. O Expresso Hogwarts acabava de partir.
Arwen Lórien Potter às 17:50 h


E que venha a tal vida nova

Ai, que bom, orelhudinha querida, que bom que você voltou pra gente!!!

Minha vista ainda estava embaçada, mas pude enxergar Dani Lupin me agarrando pelos ombros e me abraçando, muito agitada e feliz. Alexis também estava em cima da minha cama e... Harry, sentado ao lado, me olhava sorrindo.

Forcei um sorriso para todos. Não era fácil acordar ali, do que eu considerava um sonho muito malévolo. Como a atmosfera estava mais leve, eu até acreditei por um instante estar saindo de um pesadelo. Mas logo a visão de madame Pomfrey colocando Alexis na cama e a dor que senti nas costas me disseram que talvez não tivesse sido um pesadelo.

- Dani, eu... quer dizer, o que está acontecendo? Onde está a minha mãe? Eu sonhei ou ela...

- Shhh, descanse, vai ficar tudo bem - foi Harry quem respondeu, suspirando - e você não sonhou...

Ele continuou me olhando com um ar de tristeza que me fez compreender. As lágrimas voltaram a correr pela minha face. Durante o sono comatoso de dias, eu me via perdida na floresta sozinha, no escuro, procurando por ela... ela havia morrido, mas eu não queria acreditar. Sentia frio, desalento, tristeza, desânimo. E agora, ao acordar para o mundo, constato que é tudo verdade. Eu não tinha mais a minha mãezinha, aquela que me era mais cara no mundo, minha vida, meu ninho. O que eu vou fazer sem ela?

- Mas... onde ela está? - perguntei enquanto procurava em volta, como se pudesse localizá-la.

Harry sentou-se mais perto. Segurou minha mão entre as suas.

- Os elfos da floresta a levaram - respondeu por fim.

- Arwenzinha, querida, vai ficar tudo bem, olha só, você não está sozinha não, viu? Você tem a mim, à Alexis e ao Harry aqui... - tentava me animar minha grande amiga, Dani Lupin.

Nesse instante, um moço de meia-idade, louro, de aparência cansada entrou na enfermaria e caminhou em nossa direção. Remo Lupin sentou-se numa cadeira entre a minha cama e a de Alexis.

- Bom ver que a nossa menina está acordada! Seja bem-vinda de volta, Arwen! E essas lágrimas? Ei, fique feliz. Você está viva.

- Sim, mas minha mãe não... e o que eu vou fazer agora? Professor Lupin, eu não tenho mais ninguém, o senhor sabe, meu pai morreu antes de eu entrar em Hogwarts... não tenho avós, nem tios, nem primos, nem nada. Minha mãe era tudo o que eu tinha nessa vida! Me conforta saber que pelo menos alguém a tirou da floresta.

Minha voz embargava e eu não saberia dizer se eu realmente falei tudo isso ou se pensei e não consegui pronunciar metade das palavras. Lembrei do pedido que ela me fez. Eu não podia. Simplesmente não podia!

- Professor, alguém pode me contar o que aconteceu? Por que Volde... ahn... Vocês-sabem-quem foi embora e não me matou também?

Lupin e Harry entreolharam-se. Lupin limitou-se a dizer que Harry tinha sido responsável por aquilo, que ele havia tentado sair do castelo, mas não conseguiu e que tentou "outros meios, se é que me entende" para me livrar. Minha consciência pesou ainda mais. Como cumprir o que minha mãe pediu ao morrer?

- Quanto para onde ir... essas férias você iria passar um tempo com os elfos, lembra-se? Ainda pode ir, se quiser. Acho que sua mãe ficaria feliz. E quanto aos demais dias, você pode ficar conosco, em Hogsmeade... embora um outro casal já tenha manifestado desejo de que você fique com eles até atingir sua maioridade.

Olhei desconfiada para ele. Outro casal? E quem estaria interessado na minha guarda?

- Quem?
- Os Dumbledore... - e olhou sorrindo marotamente para Alexis, encostada num monte de travesseiros. Ouvindo isso, ela sentou num salto, com os olhos arregalados.

- Hã? Arwen vai ficar com a gente? Vai? Diga professor, ela vai ser minha irmã???

Ele sacudiu a cabeça afirmativamente - Se ela quiser, é claro.

- Tá brincando, professor??? Claro que eu quero!!!

- E vocês estão convidadas a ficar uns dias em nossa casa, não é, Dani? Acho que minha filha marota não vai suportar ficar tanto tempo longe de vocês duas...

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Expresso Hogwarts- a caminho de Kings Cross, Londres, onde o sr. e a sra. Dumbledore nos esperaria. Eu iria para Lothlórien daí alguns dias e até lá, ficaria na casa dos pais da Alexis. Dani Lupin ficou em Hogwarts.
Durante a viagem, minha amiga me contou suas peripécias na batalha, os mortos, os feridos, a história da poção e a escolha dos beneficiados. Fiquei imensamente triste por Anna, que a essas alturas já deve estar bem adiantada no ritual de cura, em Wakantanka. Contou do chilique do Snape, depenando e exsanguinando as harpíonas. Ele agora deve me odiar mais que tudo nesse mundo.
Harry falou pouco. Estava mais sério que de costume. Sem jeito, eu diria.
A par de tudo, comecei a digerir os últimos acontecimentos.
O que se faz com uma dor sem tamanho? Queria poder arrancá-la de mim e jogar no lixo junto com a dúvida que me consome. Tudo o que eu mais queria era um momento de paz.

Arwen Lórien Potter às 09:24 h

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