segunda-feira, agosto 01, 2005

O Expresso de Hogwarts

10 e meia. Chegamos com trinta minutos de antecedência à estação ferroviária de King's Cross, abarrotada de pessoas apressadas que iam e vinham. Íamos em direção às plataformas 9 e 10. Nosso destino era a plataforma 9 1/2. Minha mãe segurava minha mão enquanto eu empurrava meu carrinho com as malas e a coruja. Atravessamos displicentemente a barreira entre as duas plataformas e aconteceu. Vi a enorme locomotiva a vapor, vermelha e preta, soltando gordas nuvens de fumaça no céu - o Expresso de Hogwarts. Eu olhava para tudo atentamente, não queria perder nenhum detalhe.
No íntimo, um misto de tensão e ansiedade. Era a primeira vez que eu estava ali, naquela plataforma, prestes a embarcar rumo ao meu primeiro ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

Por todos os lados, a paisagem era quase a mesma: crianças e jovens com bruxos e bruxas, que deveriam ser pais e parentes, carrinhos com bagagem, corujas piando, algumas fazendo muito estardalhaço, sapos coachando. Algumas senhoras estavam visivelmente fazendo recomendações aos filhos antes de embarcar. Alguns se abraçavam, se despedindo, outros reencontrando-se depois das férias. Outros ainda entravam no trem carregados de malas e bagagens de mão e saíam em seguida. Provavelmente haviam encontrado um lugar, acomodado as coisas e voltado para a plataforma para aproveitar os últimos instantes com a família antes do embarque.
Uma garota que aparentava ter a minha idade, branquinha, com cabelos longos e castanhos que terminavam em gordos cachos e olhos castanho-amarelados estava saltitante e visivelmente mal se continha de ansiedade. Ela agora se despedia de um casal muito simpático, que eu supus serem seus pais. Logo, a garota embarcou e sumiu de vista.

Era fácil identificar quem estava ali pela primeira vez. Além do óbvio tamanho reduzido e das carinhas de bebê, ainda tinha o agravante de estarmos sempre em companhia dos pais, e não em grupinhos de crianças, tirando, claro, os grupos de irmãos, como aquele enorme de ruivos que acabara de chegar. Minha mãe viu que eu não desgrudava os olhos deles (nossa, eu nunca havia visto tantos ruivos juntos!) e me explicou que eram os Weasley e que eles eram todos irmãos ("nem precisava dizer né mãe?"), exceto pela menina de cabelos fofos e o garoto de óculos e cabelos negros que os acompanhavam.

Senti um aperto de leve nos meus ombros. "Filha, melhor você entrar e acomodar sua bagagem, já está quase na hora."

Abracei já com saudades a minha mãezinha querida. Eu iria sentir muita falta dela. Havia um ano que vivíamos só nós duas em casa, desde que papai se fora. Minha mãe era desde então pai, mãe, amiga, irmã, instrutora. Eu também não tinha amigas, sempre vivi no meio de adultos e as poucas crianças que tive contato foram as de St. Mungus.

- Lembre-se de tudo o que lhe falei. Não deixe de comer, faça suas lições de casa direitinho, preste atenção em tudo, tome cuidado, não desobedeça as ordens que te derem, seja uma boa menina e me mande uma coruja assim que chegar, contando como foi a viagem e a seleção, ok?

Minha mãe me encaminhou até a porta do trem, pousou um beijo gostoso em minha testa e então, embarcamos, eu, o malão e Galadriel (a coruja).

Não devia ter demorado tanto para entrar com a bagagem. Agora praticamente todas as cabines estavam ocupadas. Dirigi-me com alguma dificuldade mais para os fundos da locomotiva. Um dos ruivos do grande grupo de irmãos veio até mim, todo empinado, com um jeito pomposo e algo que parecia um distintivo ou um broche, não sei, reluzindo no peito estufado.

- Caloura? Por aqui, por favor, sou monitor-chefe, siga-me. Vamos encontrar um lugar para acomodá-la.

Ele ajudou-me com a bagagem e encontrou uma cabine mais vazia. Ao abrir a porta, vi que havia apenas uma menina sentada. A garota de olhos amarelados que vi lá fora.

- Olá, sou monitor-chefe. Se incomodaria em dividir a cabine com esta jovem?

A menina balançou a cabeça negativamente. Ajudei o rapaz a acomodar minhas tranqueiras no bagageiro, sentei-me defronte a garota e coloquei a gaiola de Galadriel ao meu lado, no banco. Agradeci ao rapaz, sorrindo. "Como se chama?"

- Percy Weasley, monitor-chefe, Grifinória.
- Muito prazer, Arwen Potter.

Tanto o monitor ruivo quanto a menina arregalaram os olhos pra mim. O ruivo se retirou e a mocinha olhava agora para a janela. Debrucei-me do meu lado da janela para acenar para minha mãe. O Expresso Hogwarts acabava de partir.
Arwen Lórien Potter às 17:50 h

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