segunda-feira, agosto 29, 2005

O Espelho de Galadriel

Estava parada, deitada na relva verde das terras de Lothlórien, ao lado de Alexis, que cochilava quando a Senhora apareceu. Ela parecia ainda mais pálida e bela. Estendeu-me a mão, dizendo "Venha comigo, quero te mostrar uma coisa"

- Mas Alexis está aqui dormindo e...
- Não se preocupe, ela não vai acordar agora. Venha.

Caminhamos lado a lado em silêncio. Ela observava a paisagem com a alma embevecida. Eu, cheia de dúvidas, o que havia afinal de tão misterioso naquele lugar? O que eu deveria saber quando chegasse a hora? Por que Dumbledore havia me mandado para Lothlórien? Pesquisei por dias a fio as características do povo daquele lugar, suas histórias, lendas, geografia... Mas exatamente, o que eu fui buscar? Essas perguntas me consumiam os neurônios enquanto caminhava ao lado da Senhora, que me conduziu até um jardim fechado. Nele havia uma depressão côncava no centro e, no meio, uma fonte e uma bacia de prata. Ela me encarou com ar sério, mas ao mesmo tempo, quase maternal.

- Arwen, esse é o meu instrumento precioso. O Espelho de Galadriel pode mostrar o que você quiser, ao observá-lo. Mas outras vezes mostra coisas que sequer imaginamos. Coisas que podem ser seu passado, ou o presente aqui ou em outro lugar distante. Ou ainda o futuro. Cabe a nós a sabedoria para discernirmos o que enxergarmos nele. E bom senso para não agir de maneira impensada ou precipitada. Muitos dos fatos mostrados neste espelho jamais teriam acontecido se quem os viu não tivesse tentado impedí-los. Gostaria de olhar?

Pensei por alguns segundos. Eu tinha um turbilhão de pensamentos, sentimentos diferentes, emoções que eu nunca havia sentido na vida e tudo estava mudando tão rápido! Olhar aquele espelho poderia ser algo de grande valia, mas e se ele estivesse apenas mostrando uma ilusão?

- Ele pode sim, mostrar ilusões, ou desfechos que você gostaria de ver para determinadas situações. Cabe a você decidir.
- O que a senhora aconselha?
- Galadriel não dá conselhos, jovem menina. Mas se a trouxe aqui, é porque considero que tenha capacidade de discernir o que vier a assistir ao penetrar nas águas do espelho. A decisão é sua.

Resolvi olhar. Não iria me arrancar nenhum pedaço. Ela encheu a bacia com a água da fonte e debrucei-me sobre ela, ouvindo a senhora dizer "aconteça o que acontecer, não toque na água".

Num primeiro instante a única coisa que enxerguei foi meu próprio reflexo. Mas as imagens foram se modificando e pude me ver cercada de outros elfos. Eu estava sentada numa cadeira como a de Galadriel, no mesmo grande salão onde mora a senhora dos Galadhrim. Olhei para minha mão e havia um anel em meu dedo anular direito, ornamentado com uma pedra azul clara muito brilhante. Olhei rapidamente para os lados em busca da senhora, mas ela não estava lá, nem Celeborn. Comecei a ficar aflita e ela tocou meu ombro de leve.

- Não toque na água.

Afastei-me sem entender que visão era aquela. Ela sentou-se no chão, convidando-me a sentar ao seu lado.

- O que você viu é o que você busca nessas terras, pequena Arwen.

Não entendi bem, eu parecia meio atordoada, meio sonhando. Ela prosseguiu.

- Há muito que você precisa saber. Essa será uma longa conversa - fez uma pausa e continuou em seguida - Arwen, há muitos e muitos anos tive uma filha, que se casou com Elrond de Valfenda. Eles tiveram três filhos, entre eles, a estrela vespertina de quem você herdou o nome. Ela casou-se com o rei Aragorn de Gondor e tiveram uma única filha. E esta, por sua vez, também escolheu casar-se com um mortal. E também teve uma única filha. E assim isso vem se sucedendo por gerações e gerações. Liv, sua mãe, era uma dessas sucessoras. E você também é. Todas partiram, optaram por amor à renúncia dos gozos da vida élfica, e tiveram seu tempo na terra. Assim como sua mãe. Agora, neste momento, se eu partir ou me ferir ou ainda desistir de viver nessa condição de imortalidade, meu reino deverá ter um sucessor, que continuará a guiar este povo e zelar pela paz nesta floresta. E minha única sucessora viva é você. Você faz parte dessas terras como fez sua mãe, sua avó, e todas as outras ancestrais.

Fiquei atônita. Boquiaberta. Não sabia o que dizer. Tudo o que eu queria saber era o que eu estava fazendo ali. Agora, aquilo se escancarava como uma porta se abrindo na minha frente. Eu, herdeira de tudo aquilo? Simplesmente não dava para acreditar. Ela continuou.

- Ora, uma prova disso é seu dom. Você tem o dom da "vidência" como chamam os magos, mas não exatamente como eles definem e esperam que se manifestem. Você tem o dom natural de um dos elfos de Lórien, que se manifesta de outras inúmeras formas. Ouvir pensamentos, interferir no que as pessoas pensam, conversar sem usar as palavras, mas o olhar. Sensações, intuições e a certeza de acontecimentos futuros... Ora, soube que você andou buscando a origem disso tudo em você quando esteve em Valfenda. Agora você encontrou o que buscava. Esse é o meu dom, Arwen. O dom que você herdou.

Continuei estatalada, olhando para os meus joelhos, ainda tentando digerir toda aquela enxurrada de novidades assustadoras. Estava perdida em minhas conjecturas quando Galadriel me chamou.

- Está na hora de voltarmos, a pequena Alexis deve acordar a qualquer momento.

Voltamos em silêncio e não ousei dizer sequer uma palavra. Nem questionar. Nada. Estava pasma demais para pensar em perguntar qualquer coisa.
Arwen Lórien Potter às 08:23 h

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