segunda-feira, maio 01, 2006

Muito barulho por nada - final

A grifinória de orelhas pontudas corou. Respirou fundo e chamou a garçonete.

- Mais um uísque de fogo, por favor.

A moça que os servia olhou seriamente assustada para o rapaz, como que lhe cobrando alguma atitude que freasse a garota ou ela cairia ali dura, em coma alcoólico. Com um olhar de quem está reprovando o ato, ele disse sério para a garçonete:

- Dois.

Resignada, a moça se retirou. Enquanto as bebidas não vinham, a menina de cabelos negros agora teimando em cair sobre os olhos respirou fundo e recomeçou.

- Bom, reiniciemos então. - disse pausadamente - A história começa há muito tempo, quando eu ainda achava que era proveniente de uma família pacata e feliz. Minha mãe estudou em Hogwarts, conheceu meu pai, casaram-se e foram felizes até o dia em que ele morreu, quando eu ainda tinha míseros 10 aninhos de idade. Sempre achei tudo normal, uma vida normal, família normal...

As bebidas chegaram. Esses e ainda muitos outros copos de uísque de fogo vieram. Tantos quantos Arwen jamais vira na vida. Se bem que depois do segundo ela já estava vendo tudo dobrado, logo não saberia dizer ao certo quantos copos viu ao todo naquela tarde. Mesmo assim, resumida e pausadamente, contou ao corvinal que lhe emprestava a orelha amiga todo o drama familiar que se descortinara desde a morte de sua mãe, passando pelas férias em Lothlórien e finalmente, nas suspeitas e na conversa com o ex-professor Remus Lupin. Em contra-partida, Belmont, também mais à vontade, retribuiu a confiança da garota respondendo às perguntas dela sempre que possível sobre sua vida e peculiaridades em geral... E, quando o papo estava bem cabeça, eis que a porta da casa de chá se abriu mais uma vez, irrompendo por ela não só um vento gelado maldito, como também muito mal acompanhado: Marieta e Chang.

Mal empestiaram o recinto com suas presenças e já avistaram Arwen na mesa acompanhada do mais novo bom partido da escola. Se aproximaram como se fossem amigas há de eterno da pequena grifinória. A marota simplesmente as olhou, em especial a Chang. Cumprimentou-as cinicamente, levantando-se em seguida. Joseph olhava para a Potter sem entender direito o que estava acontecendo. Entendeu menos ainda quando ela o segurou pelo punho e o puxou suavemente, para que ele se levantasse. E ficou boquiaberto, sem saber o que pensar ou o que fazer quando ela simplesmente o enlaçou pelo braço, dizendo às meninas que já estavam de saída, ficou na ponta dos pés e lhe deu um beijo no rosto, dizendo "Vamos agora né, querido?". Deram as costas para a dupla de intrusas e logo estavam na gélida e dura realidade: um frio da peste, um vento de lascar e uma tontura incrível tomando conta da cabecinha da menina, que só parou de pé porque o amigo a segurara.

- Tudo bem? - disse Belmont ainda sem saber o que fazer e sem entender patavinas.

- Acho que sim, só preciso que o mundo pare pra eu descer... Acho que comi de menos e bebi demais. Não se preocupe, vamos procurar o pessoal?

Arwen tentou seguir em direção ao 3 Vassouras, mas acabou dando um rodopio discreto. Mais uma vez foi amparada por Joseph, que decidiu sem pensar muito.

- Não, está muito frio, já está tarde, você não está bem e é melhor voltarmos pro castelo.

Passivamente ela se deixou conduzir. Outros alunos também voltavam mais cedo para o aconchego das lareiras quentes de suas salas comunais. Ainda não tinha se dado conta da insanidade do que fizera e do quanto o rapaz estava... pasmo. Caminharam em silêncio até a entrada do Salão Principal. A marota das zoreias se despedia de Joseph, quando ele interviu. Estava realmente intrigado com o comportamento anômalo da menina.

- Você não comeu nada, está tonta... quer que eu a acompanhe até a entrada da Grifinória?

- Hmmm... realmente, não comi nada. - e sentiu uma massa de ar que ela costumava chamar de Gollum se remexendo no seu abdome - Quanto ao tonta, já nasci assim, não é à toa que minhas amadas irmãs de marotice fazem questão que esse seja meu nome de guerra... Acho que vou até a cozinha...

- Vamos então. - incluiu-se o corvinal na aventura pelo subsolo de Hogwarts.

Chegaram ao quadro da fruteira e Arwen fez cócegas na pêra. A porta da cozinha se abriu e o calor brando que vinha do ambiente era-lhe extremamente agradável e aconchegante. Foram recebidos com alegria e muitas guloseimas pelos elfos domésticos. Miss Potter se sentou no chão, como costumava fazer quando invadia a fonte da farta mesa da escola. Josh se acomodou do lado da garota, também no chão. Enquanto comia, mais desperta e menos zonza, a menina sinceramente agradeceu a companhia durante a tarde, o empréstimo das orelhas para o desabafo e se justificou, muito constrangida, pelos últimos acontecimentos...

- Não gosto dela, é oportunista e fútil. E a tal da Marieta só tem olhos para o próprio umbigo, aquela traíra. Me perdoe, em condições normais de teor alcoólico eu não teria feito isso... - e mais uma vez, corava até a última pontinha de orelha.

- Tudo bem.

Conversaram ainda mais algum tempo, agora sobre futilidades, brincavam com os elfos domésticos e comiam. Depois de fartos, Josh acompanhou sua mais nova amiga até o sétimo andar, entregando-a sã, salva e ainda bêbada ao quadro da Mulher Gorda.

- Mais uma vez, obrigada por tudo. - agradeceu de novo a garota de olhos cor-de-mel e cabelos negros caindo sobre o rosto enrubrescido pelo frio, pelos uísques de fogo e um pouco pela companhia.

- Foi divertido. Boa noite senhorita Potter ... se precisar de qualquer coisa, sabe onde me encontrar.

Assim partiu o corvinal, tateando a parede. Por sorte não encontrou nenhuma platéia para apreciar seus leves tropeções em objetos invisíveis, durante sua jornada ao seus aposentos.


Escrito por Joseph Belmont e Arwen Potter
Arwen Lórien Potter às 00:38 h

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