![]() quinta-feira, novembro 03, 2005 Brumas do passado Arwen voltara para o dormitório feminino da Grifinória após o término das aulas daquele dia disposta a procurar entre seus pertences o livro dado a ela por Anna Brightbelt no início dos estudos de Literatura Mágica. Era Romeo and Juliet, de William Shakespeare, um autor trouxa. A grifinória de orelhas pontudas havia, num lampejo na beira do lago, associado os pombinhos Alexis Dumbledore e Daryl Purple ao casal da história lida há tanto tempo - o amor impossível por causa das famílias inimigas. No nosso caso, por causa da rivalidade entre as casas. Ainda não sabia bem como iria bancar o cupido, mas era algo já decidido na sua cabecinha de elfo. E contava com o apoio da marota Lupin. Era isso, seria agora que desencalhariam a dona Irritadinha! Combinou com a amiga e colega de dormitório de encontrá-la após jantar, sob pretexto de faxinar o malão. Estava sem fome e iria adiantando as coisas. Entrou na sala comunal da Grifinória, vazia. Subiu as escadas em passos apressados. Estava eufórica! Alexis sempre dizia ser muito nova para namorar e não achar graça nos meninos que conhecia. No entanto, a manifestação evidenciada pela amiga naquela tarde acontecera em momentos raríssimos. E dessa vez valia à pena investir, afinal não se acha um sujeito daqueles em qualquer lugar. Uma vez no dormitório, abriu o seu malão, encontrando a caixa que ganhou nas férias antes de qualquer outra coisa. A caixa de madeira, com runas élficas gravadas na tampa. Só então percebeu que não havia analisado nenhum dos livros contidos ali. Com o evento Felisberta no último dia de estadia em Lothlórien e todos os acontecimentos seguintes, acabara esquecendo-se de parte do presente. A outra parte estava em seu dedo anular direito - o anel de pedra clara de luz azul-intensa. Esquecendo-se por instantes do propósito de estar revirando o malão ao invés de jantar, abriu a tampa da caixa e retirou o livro de encadernação em veludo vermelho, com letras douradas. Examinou as páginas manuscritas, com caligrafia extremamente familiar. Era a letra de Liv Potter, sua mãe. Algumas páginas estavam em branco, outras escritas, outras com fotografias... Uma espécie de diário informal. Possivelmente, as páginas em branco traziam algo que não deveria ser lido por qualquer um... Fechou o malão, acomodando-se em sua cama. E começou a ler algumas passagens do livro. Eram relatos de acontecimentos simples em Hogwarts... Falava de amigas... Uma foto lhe chamou a atenção: um casal junto a seus pais lhe acenavam alegremente. Um rapaz de óculos, muito bonito, com vestes da Lufa-Lufa... Uma garota de olhos extremamente violeta, grifinória como sua mãe... E seu pai, com vestes corvinais. O pai Arwen sabia que não havia estudado em Hogwarts, mas fizera um ano de intercâmbio, e foi quando conheceu Liv, a responsável por ele se mudar da Irlanda para Londres assim que terminou seus estudos. As lágrimas brotavam de seus olhos involuntariamente. Estava ainda tudo muito recente. A saudade da mãe era imensa, e encontrar coisas tão pessoais a fez recordar todos os bons momentos ao lado dela, e com eles, também os mais dolorosos - a morte do pai um ano antes de Arwen receber a convocação para Hogwarts, e a de sua mãe - dois meses atrás. A pequena elfa guardou o diário de Liv em sua caixa novamente. Leria quando estivesse mais serena. A dor era demasiadamente grande para continuar lendo tudo aquilo. Trocou-se, ainda entre soluços silenciosos, e aninhou-se em sua cama de colunas. Ao perceber a movimentação dos alunos que chegavam no dormitório, cobriu a cabeça e fingiu dormir. Queria estar sozinha. Era filha única e via em sua genitora sua melhor amiga. Embora conversassem muito, Arwen sabia muito pouco do passado da mãe. E apesar daquele diário ser capaz de lhe informar muito, definitivamente aquele não era o momento para isso. "Tudo ao mesmo tempo..." - pensava entre um souço e outro - "tenho que ser forte, tenho que viver, tenho que esquecer... Droga! De um minuto para o outro sem família... Mamãe morta, agora sem Harry... só me falta perder as amigas também." O anel queimou de leve em seu dedo de novo, aquecendo-lhe o corpo e serenando os soluços. A imagem das amigas a confortou. Ela não estava sozinha. E jamais perderia as amigas. Esboçou um sorriso debaixo dos cobertores, e dormiu sem perceber. * Para saber melhor sobre o presente dado nas férias e a origem da caixa, clique aqui. |