domingo, abril 09, 2006

Marotas Kid - A Hora da Verdade - Final

Arwen corou com os últimos comentários do ex-professor de Defesa Contra a Arte das Trevas, Remus Lupin.

- Sei disso, professor... - respondeu baixinho a menina - Ela nunca teve esses orelhões, mas me alertou que um dia, eu poderia ter... Mas vamos direto ao assunto, por favor - a menina agora quase implorava - O que o senhor sabe? Por que tanto mistério? Ou sou eu que estou fazendo tempestade em copo de suco de abóbora?

Lupin encarou seriamente a garota um tanto aflita diante de si.

- Comecemos então pelo lado mais fácil. O meu ponto de vista. Digamos que eu tenha chateado sua mãe com minhas limitações durante a escola. Por motivos próprios, preferi nunca tocar no assunto. A bem da verdade, preferi tentar esquecer tudo o que aconteceu.

A garota agora olhava para o professor com cara de interrogação. Não estava entendendo bulhufas.

- Ehrr... Desculpa, tio Lupin, mas... Tem como ser um pouco mais claro?

Agora foi a vez de Lupin corar um pouco. Mesmo assim, prosseguiu.

- Sua mãe era uma grande amiga. Digamos que por algum tempo, ela confundiu um pouco os sentimentos... E acabou me confundindo também. No fim das contas, eu nunca pude assumir nada com pessoa alguma e você, mocinha, sabe bem o porquê, e não contei à Liv os reais motivos que me levaram a afastar-me dela. Esse foi o grande erro. Ela ficou magoada, e com razão. Eu simplesmente me afastei. Ela saiu do time de quadribol, se afastou dos meus amigos e, graças a Merlin, seu pai entrou em Hogwarts para um intercâmbio algum tempo depois e acabou conquistando a visada Spellman. O resto você já sabe. Casaram e tiveram essa menina bonita que está aqui conversando comigo agora.

Arwen se sentia diferente. Era bom e ruim ouvir aquilo. Mas a balança do coraçãozinho da grifinória pendia mais para o lado bom de tudo e queria ouvir tudo que ele pudesse contar. Mesmo que fosse insignificante, mesmo que fosse irrelevante.

- Conte mais, professor. Como ela era?

- Ora, me espanto de que Liv nunca tenha contado nada sobre as artimanhas dela na escola pra você! - riu discretamente o ex-professor - Bom, vamos lá. Ela era impossível. Não tinha trava na língua, era altiva, exímia artilheira, boa amiga, companheira, divertida, estudiosíssima - nesse ponto, Lupin fez uma careta de reprovação para Arwen, como se ela fosse o oposto da mãe nesse ponto; o que não era de todo mentira - e esplendida e estonteantemente linda. Acho que não havia um só garoto na escola que pusesse os olhos nela e não levasse um susto, tamanha a beleza de sua mãe. Acho que isso faz parte da herança élfica de vocês... Ela e Lily Evans, mãe do seu... Legume, eram as garotas mais populares de Hogwarts.

Arwen sorriu, satisfeita, e Lupin continuou.

- Era realmente linda e sabia disso. Gostava de ver os garotos babando por onde ela passava. Ela tinha habilidade para conquistar quem quisesse, pois não só era muito bonita como era consciente desse fato, o que fazia dela uma garota impressionantemente determinada. Acredito que a única bola fora de Liv tenha sido eu.
Não podia contar a ela o que acontecia comigo. Acredito que ela só tenha tomado conhecimento da minha situação quando tudo veio à tona, aqui em Hogwats, há 3 anos...

- E ela era namoradeira, professor? - Arwen adotou um certo tom de reprovação na voz, nunca imaginou sua mãe na boca do povaréu em Hogwarts.

- Não, não era. Tinha bons amigos, mas que eu saiba, teve dois namorados durante a escola. Um sonserino, Max Fierman, isso lá pelo quarto ano... E depois, seu pai. Mas isso não impediria que mais da metade dos garotos da escola tentassem sair com ela, não?

- Falando em amigos... - Arwen se abaixava de novo para pegar um diário na mochila, tirando algumas fotos de dentro dele - O senhor então conheceu essas pessoas aqui, certo? - concluiu mostrando a bendita fotografia dos dois casais, onde a moça de olhos lilases e o rapaz de óculos acenava pra ela ao lado de seus pais.

Lupin pegou a fotografia na mão e sorriu ternamente.

(Off: Clique AQUI para ver a foto.)

- Sim, querida, conheci. Callista Graham era a melhor amiga da sua mãe, artilheira do time de quadribol como ela. Inseparáveis. E Andrey Storm, praticamente um irmão adotivo da sua mãe. Eram namorados na época, ele e Graham. Depois se casaram e tiveram um filho. Sei pouco do que aconteceu após o término dos nossos dias em Hogwarts como estudantes - ele agora parecia etéreo, mais pensativo que nunca - Os tempos eram cada vez mais difíceis, o mal se disseminava com tanta rapidez que mal podíamos acreditar.

- O filho deles se parece com ela, tio Lupin? - indagou imediatamente se lembrando do sonserino Purple.

- Não sei, Arwen, não cheguei a conhecê-lo... Como eu lhe disse, sei de muito pouco depois que terminamos os estudos. Talvez o mesmo que todos que viveram aqueles dias...

- E o senhor sabe onde foram parar essas pessoas?

- Infelizmente, não. - respondeu tirando alguns recortes do Profeta Diário do bolso - Você nasceu numa época de paz. Mas mesmo durante os dias de paz, atrocidades aconteciam, porque os seguidores Dele não se conformavam com o seu desaparecimento. Durante anos ocorreram horrores eventuais, torturas, assassinatos... Bom, o que sei sobre Graham e Storm é isso - e estendeu os recortes para que Arwen pudesse pegá-los.

A pequena semi-elfa lia o primeiro recorte. Uma casa inteira destruída, toda a família dentro, e desde então, o desaparecimento do casal de aurores. Fora um ataque terrorista, possivelmente vingança por algum comparsa morto durante os dias negros. Destruíram e queimaram a residência dos Graham num dia de festa. Os olhinhos élficos da marota de orelhas pontudas brilharam mais que o habitual.

- Eles morreram então?

- Ninguém sabe. - disse Lupin sombiamente - Não estavam entre os corpos encontrados nos escombros, mas haviam certamente saído de casa para a festa familiar. Uma tragédia.

- Sim... - a vozinha quase sumida, um tanto abalada, retrucava o comentário. Enquanto isso, os dedinhos ágeis percorriam outros recortes e um em especial lhe chamou a atenção. Uma fotografia do seu pai na primeira página do Profeta Diário? Leu avidamente o pedaço de reportagem em suas mãos e em seguida, olhou incrédula para o professor.

- Assassinado? Como assim? Minha mãe disse que... Bom, sim, ele foi assassinado, mas não desse jeito como colocaram aqui, não? Ele estava a serviço, era auror, lidava com vampiros, mas... uma armadilha?

A mente da garota agora estava aos rodopios.

- Bom, especularam muito sobre o assunto e na ausência de provas, ficou o dito pelo não dito. Sua mãe não mentiu pra você. O que ficou fechado no inquérito foi exatamente isso. Mas não me convenceu, nem a ninguém. Não havia sinais de rebelião em nenhum lugar do mundo quando seu pai foi convocado para apoiar a força americana anti-vampiros. Foi um chamado inesperado e muito estranho. E em seguida, a triste notícia. E somente ele morreu nessa missão. Nenhum outro auror sofreu sequer um arranhão. Nunca se soube exatamente o que aconteceu, quantas pessoas haviam, nem nada.

A garota calou-se, observando o pedaço de jornal.

- Pode ficar com eles, se quiser. - Ofereceu Lupin - E eu trouxe uma coisa para você.

Tirou de uma sacola uma boneca bonita, porém esquisita. Parecia ter vida. Entregou como se fosse um tesouro nas mãos de Arwen.

- Era de sua mãe, foi presente da Graham. É uma boneca-diário. Sua mãe conversava muito com ela... Acabou ficando comigo graças ao desentendimento que tivemos. Acho que ela agora é sua.

Arwen apertou a mão da boneca, que disparou como um gravador. A voz de Liv ecoava vindo de dentro do brinquedo, contando suas confidências sobre o assunto que, no final das contas, nem era tão escabroso assim. A grifinória fez a boneca se calar e a abraçou. Saudade da vida que tinha antes de tudo aquilo.

No íntimo, sentia raiva de si mesma. Descobriu muita coisa, mas realmente estava fazendo tempestade num copo d'água. Afinal, descobrira muito sobre sua mãe, mas os motivos que levaram a todo aquele suspense eram tão... comuns! Talvez o espírito Marota Holmes tivesse contagiado demais sua cabecinha de vento. Começou a sentir raiva de si mesma por ser tão abelhuda. Tanta apreensão para uma resposta tão... simples! E os amigos da sua mãe... Nem ao menos se sabia se estavam vivos. Provavelmente não. Sentia-se frustrada. No entanto, outra coisa agora a incomodava. O mistério envolvendo a morte do pai. Mas não seria ela quem descobriria nada, estava cansada de ser uma marota detetive. Todos os aurores do Ministério da Magia trabalharam em cima disso, definitivamente não seria ela quem salvaria o mundo.

- Quer perguntar mais alguma coisa? - Lupin interrompeu o devaneio da menina.

- Não, professor. Muito obrigada pela sua paciência.

- Posso te pedir um favor?

- Claro, professor.

- Deixe-me ver o seu anel?

Ela delicadamente estendeu a mão esquerda, onde estava o anel de pedra azul clara. Lupin segurou a mão da menina, contemplando-o.

- Ele é mais útil a você do que foi pra ela... Lembro do dia que o guardei... Bom, vamos mudar de assunto.

Como sua mãe jamais mencionara nada sobre poderes extraordinários do anel que usava, Arwen apenas balançou a cabeça concordando. E ela também preferia mudar de assunto. Sabia que Lupin havia encontrado o anel de Liv depois do seu assassinato.

Ouviram ruídos, cochichos e sussuros do lado de fora da casa de chá, mesmo com o vento sibilando. Lupin então sorriu marotamente, e falou mais alto.

- Ok, vocês já podem entrar.

Alexis e Dani entraram um tanto coradas por terem sido flagradas tentando ouvir a conversa com orelhas extensíveis, mas infelizmente chegaram já no final do papo-cabeça. Atrás delas um batalhão entrou na casa de chá: Tomas Bittes, Daryl Purple, Bill MacMillan, August Longbottom e Joseph Belmont. Remus Lupin se levantou, curvando o corpo cumprimentando a garota que continuava sentada.

- Agora é hora de você ir se divertir também.

Despediu-se da filha de coração com um beijo na testa e saiu do Madame Puddifoot, deixando Arwen, a boneca e um punhado de amigos.
Arwen Lórien Potter às 09:52 h

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