sexta-feira, julho 15, 2005

A sombra e a escuridão

Corri até minha mãe estirada no chão e a coloquei no meu colo. Eu chorava convulsivamente. O pânico, mais que nunca, havia me tomado conta. O que seria de mim se o pior acontecesse com ela? Lembrei-me de quando perdi meu pai. Não queria perdê-la, eu não podia perdê-la!

- Mãe, não se preocupe, vou te tirar daqui!
- Minha filha, vá embora, vá enquanto é tempo...
- NÃO! Eu não posso! Vamos sair daqui juntas, você vai ver!
- Você PRECISA ir, vá, ande, volte rápido...
- Mãe, eu não vou te deixar aqui!
- Volte rápido, não há mais tempo para mim e eles estão atrás de você!

A voz dela estava fraca. Só então percebi que havia um ferimento em seu abdome. Assustei-me com a quantidade abundante de líquido vermelho que jorrava da lesão. Fitei minha mãe, assombrada.

- O que foi isso?
- Filha, não há tempo para explicações. Vá embora. E me prometa... que você... não vai... ficar com... o menino...Harry Potter...
- O que?
- Filha, você está correndo risco... se ficar com ele... vá...
- Mãe!
- Não fique... não case... nem com ele... nem com nenhum mortal...
- Mas mãe! Eu amo o Harry! Não diga isso, você vai ficar boa e vai ver que nós...

Ouvi ruídos de passos nas folhas secas no chão...
Um vulto escuro, alto, magro, apareceu entre as árvores que circundavam a clareira.
Apontou algo que parecia uma varinha e disse pausada e friamente:

Avada kedavra.

Minha mãe acabou de desfalecer no meu colo. Eu soluçava e gritava tamanha a dor que sentia me corroer. Olhei cheia de ódio e rancor para o ser que estava diante de mim. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa para atacá-lo, ele me amaldiçoou.

Crucio!

Enquanto eu gritava de dor, meu corpo se contraía involuntariamente. Ele se aproximou, ficando diante de mim. Então pude ver os olhos em fenda, como os de uma cobra, vermelhos como o sangue que jorrava do corpo da minha mãe, que agora jazia inerte nos meus braços... Voldemort.

Menina tola. Você é muito preciosa para ser destruída por um comensal qualquer. Fiz questão de vir eu mesmo pôr as mãos em você... elfa.

Eu não conseguia falar, somente me contorcer, gemer, gritar... Ele conservava a face congelada.

Isso mesmo... muito bom... sofra... sinta a dor e o tormento da maldição cruciatus. Enquanto isso, seu herói de fraldas assiste aquela que lhe é mais cara sofrer... Ele virá até você...

Reuni forças para gritar, mas tudo o que saiu dos meus lábios foi um gemido.

- Ele não vai... cair... de novo...

Ora, garota tonta, é claro que ele virá... estou apostando nisso. Aposto no prazer que ele tem de bancar o herói sempre que possível... Seja paciente, ele virá.

Eu continuava me contorcendo no chão. Pedia mentalmente para que Harry não viesse atrás de mim.

Garota imbecil. Não percebe que suas ondas telepáticas não são páreo para a sintonia que tenho com aquele fedelho metido a poderoso? EU controlo a mente dele. EU faço com que ele veja o que EU quero.. E o que ele vê agora é você... sendo torturada. O amor da vida dele sendo trucidada... sofrendo... isso menina... sofra bastante... o idiota virá em seu socorro...

Não sei de onde tirei forças para gritar...

- NUNCA!

Bom, vamos melhorar isso então... Que tal incrementarmos mais a nossa... brincadeira?

Voldemort soltou um silvo agudo e uma enorme sombra apareceu no céu, sobrevoando a clareira.
Uma ave gigante e grotesca vinha em nossa direção, perdendo altitude... Cada vez mais próxima...

Harpíonas! - pensei.

Não pude fazer muita coisa. A ave aproximou-se de mim com brutalidade, enterrando o bico em minhas costas.

Boa menina... e agora, elfa? Como se sente? Fraca? Deprimida? Morrendo?

O sangue empapava as minhas vestes rasgadas e imundas. Eu me sentia febril, estava tendo alucinações. Podia ver o pânico no rosto de Harry assistindo sabe Merlin como aquela cena. Eu o via tentando sair do castelo sem sucesso... via de novo os últimos momentos de minha mãe... ouvia as palavras dela repetidamente...

"Não fique com ele"

Isso menina. Você não vai mesmo ficar com ele. Continue sofrendo... faça-o sofrer! Mate o amor que existe nele! Desperte nele todo ódio que ele pode sentir!

Fui me sentindo cada vez mais fraca... mais febril... Pude ouvir Voldemort dizendo palavras desconexas como se Harry estivesse ali, diante dele.

"Potter, isso não funciona comigo. Vamos, sofra, olhe só, como ela está indo... Venha buscá-la, garoto! Observe a vida dela se esvaindo... indo embora... Vê o sangue, insolente? Venha, venha buscá-la..."

"Não tenho medo de você... Moleque!"

Voldemort parecia torcer os traços eventualmente, apertava os olhos como se uma luz o estivese cegando...

Minha vista se turvava cada vez mais... ouvi-o dizer "Olhe para ela, insolente. Ela morreu. E você não veio salvá-la... O cadáver dela jazerá aqui até que seja encontrado..."

Pude ver ainda entre brumas o bruxo virar-se de costas e sumir nas sombras...
Pude também ouvir alguns passos que vinham.
Uma silhueta algo avantajada aparecia entre as árvores, soltando um grito de terror.
Aproximou-se mais de mim, seguido de umas duas ou três pessoas... Uma delas de contornos femininos...

Paddy O'Connoly! - pensei em dizer, mas minha voz não saiu.

E tudo ficou escuro... turvo... o alívio da dor é uma benção... ainda que sombreada pela morte.
Arwen Lórien Potter às 21:50 h

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